domingo, 18 de julho de 2010

Gestão do Conhecimento no Brasil: Cenário Atual e Perspectivas Futuras

Dr. José Cláudio C. Terra,
Presidente da TerraForum Consultores

Se Conhecimento e Ativos Intangíveis são tão importantes por que poucas empresas têm processos sistemáticos e estratégicos para gerenciá-los? Por que a Gestão do Conhecimento (GC) ainda parece ser uma coisa nebulosa e pouco entendida nos escalões mais altos das empresas brasileiras? Temos várias hipóteses para explicar o fato desta disciplina de pensar, atuar e implementar processos ainda está tão distante das empresas nacionais. Dividimos nossas hipóteses em dois grandes grupos:

Grupo I: Dificuldades Inerentes da Gestão do Conhecimento:

*      GC envolve necessariamente transdisciplinariedade: é preciso pensar em estratégia, gente, cultura, processos e tecnologia ao mesmo tempo.
*      É preciso de capacidade de abstração para enxergar processos “invisíveis” de criação e uso de conhecimento, mas também praticidade para implementar processos visíveis e que se institucionalizem nas organizações.
*      GC é algo estratégico, mas se manifesta por meio de ações que se enraízam no modo de trabalhar das pessoas.
*      Necessita de compartilhamento, mas não pode ser dependente de atitudes altruísticas.
*      Assim como na estória do “ovo e da galinha” é difícil dizer como começar: as pessoas participam se a Gestão do Conhecimento lhes for benéfica, mas a Gestão do Conhecimento só lhes será benéfica se as mesmas participarem de forma entusiástica e sistemática.
*      Aprender e gerar novos conhecimentos úteis e estratégicos demanda tempo, mas as organizações demandam resultados no curto-prazo (e cálculos do tipo ROI).

Grupo II: Dificuldades Específicas das Empresas Brasileiras:

*      As empresas brasileiras, em sua grande maioria, tradicionalmente não investem em P&D (típica atividade intensiva em conhecimento) e em atividades cujo retorno é incerto (mas, potencialmente, muito alto);
*      A GC atingiu um pico de notoriedade no Brasil durante um período de vacas magras (últimos 2 – 3 anos) ao contrário do exterior (6 – 8 anos atrás): este fato inibe investimentos sem retorno previsível;
*      Vários processos e iniciativas de GC se apóiam em tecnologias avançadas de informação que demandam usuários comuns mais familiarizados e confortáveis com aplicativos além do básico (Office e email) e no Brasil o nível de capacitação digital é menor do que em outros países avançados;
*      Várias iniciativas de GC demandam disciplina para escrever, algo não natural para nossa cultura nacional e organizacional;
*      Baixa compreensão geral do que gera valor na Era da Informação, do Conhecimento e dos Intangíveis.

Apesar das hipóteses pouco otimistas acima, vemos que pouco a pouco a GC começa a ganhar destaque, corpo e recursos (dinheiro e pessoas) nas empresas brasileiras. Parcela significativa de dirigentes nacionais começa a ler livros, artigos e freqüentar vários seminários (inclusive promovidos por nossa empresa) sobre o tema e descobrir que fora do Brasil já há um grande número de organizações que estão reportando resultados significativos e quantitativos em iniciativas de GC .

Várias das subsidiárias e filiais das empresas multinacionais que têm processos de GC estruturado estão adotando naturalmente processos, projetos e iniciativas nesta área (em alguns casos por imposição da matriz). Algumas das melhores empresas nacionais também começam a reportar ações e em alguns casos resultados (nada quantitativo ainda)1. Gestão do Conhecimento é, por outro lado, algo sem um escopo bem definido.

Dependendo da situação, podem envolver iniciativas de grau estratégicas bastante distintas, como as listadas abaixo:

*      Boas aquisições de empresas na busca de conhecimentos específicos;
*      Descentralização de estruturas organizacionais e diminuindo o número de níveis da estrutura organizacional;
*      Investimento em P&D;
*      Melhoria do processo de comunicação interno e com parceiros externos;
*      Uso intensivo de novas tecnologias de informação, comunicação e colaboração;
*      Melhoria de processos de recrutamento;
*      Aumento das oportunidades de treinamento para funcionários, clientes, parceiros e fornecedores;
*      Criação de memória, incentivando o compartilhamento de informações e conhecimentos;
*      Mensuração de resultados de forma inovadora e compartilhada;
*      Pedidos de patente e desenvolvimento de estratégias de segredo industrial;
*      Etc, etc

A única coisa que ninguém pode fazer é comprar um software de GC (embora muitos tentem vendê-los). Nós definimos GC de uma maneira bastante abrangente e que engloba várias das iniciativas listadas acima:

“Gestão do Conhecimento significa organizar as principais políticas, processos e ferramentais gerenciais e tecnológicos à luz de uma melhor compreensão dos processos de GERAÇÃO, IDENTIFICAÇÃO, VALIDAÇÃO, DISSEMINAÇÃO, COMPARTILHAMENTO, PROTEÇÃO e USO dos conhecimentos estratégicos para gerar resultados (econômicos) para a empresa E benefícios para os colaboradores internos e externos (stakeholders)”

Esta definição está longe de excluir o uso de softwares, principalmente porque eles são essenciais para a manipulação de informações (input importantíssimo para a geração de conhecimento) e facilitar a comunicação entre pessoas que podem trocar informações, experiências e conhecimentos.

Muitos se perguntam (principalmente aqueles trabalhando no lado da oferta) se existe um mercado de Gestão do Conhecimento. Este mercado, dada as definições acima, é claramente, uma abstração bem grande. É útil, porém, pensarmos em um mercado onde o lado da oferta é composto por aqueles fornecedores de soluções e software úteis para a gestão da informação e conhecimento e o lado da demanda é representado pelas empresas que querem implementar soluções de GC. Segundo esta concepção, cremos que o lado da oferta (conforme figura abaixo) está relativamente bem estruturado (em alguns casos sem dever nada aos melhores padrões internacionais).
A maior dificuldade parece residir no lado da demanda. Os clientes (as empresas que querem implementar GC) precisam trazer a gestão da dimensão e do recurso conhecimento para o nível realmente estratégico e saber o que comprar a partir de objetivos estratégicos e de gestão de conhecimentos estratégicos bem definidos.

Figura: Oferta de Soluções e Tecnologias Úteis para a Gestão do Conhecimento

Esperamos ver mudada esta situação, pois quem está “comprando” a GC é gerência média “convertida” para a Gestão do Conhecimento, que consegue levar adiante apenas ações pontuais ou departamentais, sem necessariamente um vínculo estratégico. GC, ademais, não dever comprada, mas sim liderada (assunto extenso para uma outra oportunidade). Quando a GC passar a ser assunto da alta administração temos convicção que as soluções listadas acima poderão de fato trazer resultados tangíveis e até mesmo quantitativos como no caso das empresas dos países desenvolvidos.

Quando isto acontecer, nossas organizações passarão a discutir de maneira explícita quais os conhecimentos que precisam ser alavancados, dinamizados, codificados, preservados, disseminados (e para quem?) e protegidos para gerar vantagem competitiva (e isto estará inserido nos principais documentos de planejamento estratégico das organizações).

As soluções e tecnologias específicas listadas acima continuarão a ser as mesmas que já são oferecidas pelo mercado. No entanto, passarão a ser aplicadas e desenvolvidas de maneira muito mais integrada e coerente com uma lógica estratégica e apoiadas por processos bem estruturados de change management capitaneados pelos níveis mais altos das organizações

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